Almeida Henriques

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Economia – O nosso muro

Um dos momentos históricos mais marcantes do século XX, que esteve na génese de profundas alterações políticas, estratégicas e económicas europeias e mundiais, sucedeu com a queda, ou derrube, como agora melhor se diz, do Muro de Berlim.
Com o muro caíram convicções, ideologias, abriram-se portas para famílias e povos separados, abriu-se uma Europa alargada como até então não se podia imaginar, “achou-se” uma nova Alemanha dividida desde o mais violento confronto ocidental, destruidor e criador, paradoxalmente.
Ao longo da sua vida enquanto nação, Portugal tem derrubado também muitos dos muros que foi construindo, vencendo barreiras, reorientando vocações, integrando, no passado mais recente, o clube da União Europeia, em parceria de toda a justiça com alguns dos países mais desenvolvidos do Ocidente.
Aberta a porta nesse muro, convergiu para com eles, modernizou-se, aumentou o bem-estar e a qualificação dos cidadãos, criou infra-estruturas que eram fundamentais, estabeleceu e incrementou relações comerciais com países próximos com os quais, até então, parco contacto económico tinha, deu início a uma alteração da sua estrutura produtiva, criou coesão.
Neste percurso, porém, sobretudo nos últimos anos, aquela porta aberta estreitou-se. De um ritmo de forte crescimento e convergência, passámos para modestíssimos níveis de produtividade e capacidade competitiva, contas públicas desequilibradas, com o consequente aumento da carga fiscal, fruto das soluções orçamentais mais fáceis, e assustadora expansão do endividamento externo.
Se a crise veio tornar mais complexo este cenário, não deixou de constituir argumento de desculpabilização para relativizar os nossos problemas mais estruturais e a dinâmica que vêm perdendo as nossas regiões.
Não podemos escamotear as nossas fragilidades, não podemos ignorar as desigualdades sociais que se vêm agravando, a perda de consolidação da classe média e as dificuldades que atravessam as nossas empresas, sobretudo as de menor dimensão.
Temos que por o dedo na ferida e reconhecer que a economia do país não vai por bom caminho. Temos de ser capazes de derrubar esses muros e regressar ao roteiro de convergência de cuja rota nos desviámos nos últimos anos.
In Jornal do Centro, 13 de Novembro de 2009

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