Almeida Henriques

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

PS só viabiliza cinco das cerca de 1000 propostas de especialidade do Orçamento do Estado 2009

Seria normal, numa conjuntura muito difícil como a que vivemos, que o Governo tivesse maior abertura às propostas da oposição, ao invés de chumbar cegamente tudo o que se apresentou.
Denota o autismo que venho denunciando, embora se verifique em matérias como as linhas de crédito com recurso à garantia mútua e à necessidade de pagar a tempo e horas às empresas, que o Governo, embora sempre com atraso, vem dar razão àquilo que temos defendido ao longo dos últimos três anos.

Vale mais tarde do que nunca, só que os efeitos já não são os mesmos, o tecido económico está hoje mais fragilizado do que na altura em que sugerimos outra actuação.

Pode ser que, em relação às propostas que apresentei em nome do PSD, o Governo acorde e venha a dar razão num momento posterior.

Para que cada cidadão possa avaliar a justeza das propostas apresentadas, elenco as sete por mim apresentadas, peço que avalie da sua justeza.

1) Fixação do prazo de 31 de Março de 2009 para o Governo regularizar as dívidas às empresas que se estimam acima de 2,5 mil milhões de euros;

2) Transformação em títulos negociáveis das dividas do estado vencidas e reconhecidas como certas, liquidas e exigíveis;

3) Aplicação do DL 32/ 2003 que resulta de Directiva Comunitária para moralizar os pagamentos de dívidas, passando o Estado a calcular imediatamente os juros de mora, quando paga uma divida vencida fora de prazo, o mesmo principio que utiliza para com os contribuintes;

4) Compensação de dividas ao fisco ou segurança social, com créditos vencidos sobre o Estado de natureza não tributária de que o contribuinte seja titular, no fundo, permitir o “ acerto de contas “, para evitar situações em que o Estado penhora contribuintes que têm dinheiro a receber do mesmo Estado;

5) Extinção do PEC, pagamento especial por conta, como medida de apoio às empresas na actual conjuntura e pelo facto de ter sido instituído em 2001 como instrumento de combate à fraude e evasão fiscal, já não se justificando;

6) No pagamento por conta, ao invés da redução de 5% para empresas com facturação inferior a 500.000€, adoptar o critério de ser micro e pequena empresa, isto é facturar até 10.000.000€; na proposta do governo, a redução de 5% só tem incidência em 8,98% do IRC cobrado, na nossa proposta incidiria em 34,9%; a verdade é que o Primeiro Ministro enganou as pessoas, anunciou que a redução de 5% no pagamento por conta atingiria 265.000 empresas, esqueceu-se foi de dizer que só representa 310 milhões de euros de IRC cobrados; ao aplicar mais 5% nas empresas com mais de 500.000€ de facturação, cobra mais 5% num universo potencial de 3.100 milhões de euros; em suma, agrava a cobrança de impostos;

7) Exigibilidade do IVA no momento do recebimento total ou parcial, evitando assim que as empresas estejam a financiar o estado, adiantando verbas que ainda não receberam.

Depois de uma maratona de análise do orçamento, fica sempre o amargo de boca de acreditar que eram boas propostas, mas foram chumbadas pelo PS, só porque foram ideias da oposição.

Sei que estas ideias não são novas para os leitores, há vários anos que as venho defendendo, com a esperança de, um dia, as ver aplicadas.

A Morte da Grande Área Metropolitana de Viseu

Uma ultima palavra para a criação da Comunidade Intermunicipal Dão Lafões na Assembleia Municipal Extraordinária de segunda feira, uma unanimidade forçada em torno duma solução sem visão.

Enquanto na criação da Grande Área Metropolitana de Viseu houve um grande envolvimento da sociedade, a criação de algo com dimensão, com potencial estratégico, nesta solução imposta pelo Governo a principal motivação é a assinatura de um contrato de acesso a fundos comunitário.

O PS mata uma solução estratégica, a Grande Área Metropolitana, para criar uma solução instrumental, mitigada, sem visão, não respeitando a vontade das populações e dos eleitos locais, que preferiam uma solução mais ampla.

Mais um sonho que se enterra com a falta de visão dos socialistas que nos governam, o importante é deitar abaixo o que os outros fizeram.

Três anos e meio depois, desfeita uma boa solução, o PS só consegue tirar da cartola uma solução destas.
In Diário de Viseu, 28 de Novembro de 2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Vivemos tempos difíceis, a atitude do Governo não ajuda!

Vivemos uma semana de grande complexidade, em que os indicadores económicos do País e do Mundo se agravam, apesar dos esforços dos diferentes governos, com destaque para os da União Europeia e dos EUA.
As bolsas e os investidores estão instáveis, todos os dias se verificam novas quedas, as noticias que nos chegam da economia real é de empresas que fecham e outras que se reestruturam e despedem pessoas e cancelam investimentos, de sectores âncora como por exemplo o automóvel, que sentem como nenhum outro a crise instalada; é difícil divisar um momento em que verifique a viragem e a melhoria da conjuntura.

Por mais que o Governo pretenda escamotear o problema, o nosso País, mais uma vez, não estava preparado para uma crise com esta intensidade, as reformas anunciadas e tão propagandeadas afinal não foram feitas, veja-se o estado da educação, da justiça, da administração pública, da economia!

É certo que esta é uma crise sem precedentes, reconhece-se, mas o governo passou quatro anos a prometer reformas e estas não se fizeram.

Um dos aspectos mais visíveis é a educação.

O clima de confronto permanente levou a uma desmotivação sem precedentes, o Governo desvalorizou o descontentamento e teve mais uma vez os professores na rua, numa manifestação de grande força, preparada de uma forma serena, o traço relevante foi e é o autismo do Primeiro Ministro e da Ministra da Educação.

Avaliação tem que ser feita, nos dias que correm, numa administração pública moderna, os professores têm que ser avaliados, não tenho ouvido nenhum a dizer o contrário; a verdade é que o modelo actual não funciona e foi imposto contra a vontade de todos.

O Governo mostra agora sinais de querer recuar e convocou um Conselho de Ministros extraordinário, simplificando o modelo, tentando remendar o que já não tem conserto.

Adequado era que se suspendesse o modelo e, duma forma séria e sem pressões, preparasse um novo processo, em nome da estabilidade nas escolas, em nome dos alunos que serão sempre os mais prejudicados!

Na economia as coisas não estão melhores, o discurso do Governo e o sentimento reinante estão nos antípodas.

O Secretário de Estado do Comércio vem a Viseu despejar um conjunto de estatísticas e de pretensos apoios que o Governo colocou à disposição, num discurso totalmente desgarrado da realidade, todos os empresários escutavam atónitos !

O Ministro da Economia, na audição do Orçamento de Estado 2009, quando questionado por mim quanto aos reais apoios às empresas e falta de uma politica adequada para as empresas, sobretudo as de menor dimensão, exibe um gráfico em que mostrava que em 2004 os incentivos às empresas foram de 400 milhões de euros e que em 2008 seria de quase 4.000 milhões.

Pedi para decompor o valor absoluto e esclarecer que eram verbas do Quadro Comunitário em encerramento, o que eram verbas do novo Quadro Comunitário de apoio e linhas de crédito.

Esteve quatro horas com o quadro em exibição, nunca respondeu à minha pergunta, ficou bem claro o embaraço, sobretudo no final da sessão, pois estava a misturar alhos com bugalhos, chegou mesmo a reconhecer, embora informalmente, que, de facto não deveria ter colocado no gráfico o termo incentivos, pois não era disso que se tratava.

Obviamente que o grosso dos apoios são do encerramento do QCA III, pois do novo QREN quase não houve ainda pagamentos às empresas.

Mas o mais grave é que estava a contabilizar como incentivo as linhas de crédito com recurso à garantia mútua aprovadas recentemente, aliás uma medida que eu elogiei.

Nestas linhas de crédito de cerca de 2.500 milhões de euros, o incentivo do Governo é a bonificação das taxas de juro e o reforço do fundo de garantia mútua, não se podem considerar estes valores incentivos, o dinheiro emprestado é da Banca.

Vale tudo para passar uma mensagem do que não se faz, o Governo é hoje uma agência de promoção de eventos, esquece-se que, muitas vezes, o efeito é exactamente o contrário, as pessoas sentem-se enganadas e jamais acreditam!

Os tempos difíceis que atravessamos exigiam uma postura mais de consonância com a realidade, sem mentiras ou truques, mobilizando as pessoas para as dificuldades, ouvindo as várias sugestões que surgem dos diferentes quadrantes da sociedade.

O Governo, a maior parte das vezes não ouve, procura iludir a realidade e, quando ouve é com três anos de atraso.

Dois exemplos, há mais de três anos que venho a defender a criação de linhas de crédito com recurso à garantia mútua e os pagamentos às empresas, o Ministro da Economia chegou a ironizar com estas propostas; agora acolhe-as, faltando saber como vai concretizar os pagamentos de mais de 2,5 mil milhões de euros atrasados às empresas!

Vale mais tarde do que nunca !

In Diário de Viseu, 21 de Novembro de 2008

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

3º. Congresso da AIRV e Universidade Empresarial de Viseu

O acontecimento de maior impacto da semana é, sem dúvida o 3º. Congresso Empresarial da Região de Viseu promovido pela AIRV, onde estive durante o dia de quinta feira, aliás fui o único Deputado que marcou presença.

A intervenção de abertura do seu Presidente, João Cotta, é um excelente exercício de afirmação de uma organização da sociedade com provas dadas, que assume mais uma vez o papel de motor da região, na medida em que tem capacidade de concretização mas, sobretudo, ambição e produção de pensamento, coisa que muitas vezes vai faltando no nosso País.

O tema da competitividade, a discussão pela positiva de caminhos para ultrapassar esta conjuntura recessiva bem como a sempre importante questão do modelo de organização do Estado, com enfoque na regionalização, foram temas sempre presentes num conjunto de intervenções de convidados de primeira linha do nosso País e com a participação de três centenas de empresários de Viseu.

O facto mais marcante é o regresso à agenda da questão da Universidade de Viseu.

Recordo que o modelo Veiga Simão, que eu apoiei durante toda a sua construção, passava pela constituição do Instituto Universitário de Estudos Avançados (cursos de pós graduação, mestrados, doutoramentos, estudos especializados e cursos de licenciatura que não colidissem com a oferta já existente) e por um entendimento entre a Universidade Católica e o Instituto Politécnico, a ligação a duas Universidades, Erlangen Nuremberg University e College of London e numa ligação estreita à Siemens Medical Solution, API e diversas empresas de Viseu, assumindo-se como escola do conhecimento, bilingue, de excelência, tendo o empreendedorismo como principal desígnio e a saúde e as artes como pilares.

Ainda hoje, ao olhar para trás, não perdoo ao Partido Socialista e ao Engº. José Sócrates, terem matado este excelente projecto logo na discussão do programa de Governo, sem conhecerem os seus virtuosismos.

É sempre bom lembrar, para os mais esquecidos, que a uma pergunta minha acerca da Universidade de Viseu, respondeu o Primeiro Ministro, duma forma peremptória, que não haveria nenhuma Universidade criada na legislatura, com o silêncio conivente dos Deputados do Partido Socialista eleitos por Viseu.

Os mesmos que, ao longo de quatro anos, hipocritamente, foram dando suporta à aprovação de moções de apoio à criação da Universidade e, em entrevistas e discursos, foram dizendo serem favoráveis.

A verdade é que, ao longo destes quase quatro anos de mandato socialista, deitaram abaixo um excelente projecto sem nunca apresentarem alternativas.

Por isso é de registar que a AIRV chamasse a si este dossier, com uma primeira concretização, a Escola de Estudos Avançados das Beiras, numa excelente parceria com a Católica e o Politécnico que já vai no terceiro curso de pós graduado.

Mais tarde vimos o Senhor Ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, a fechar completamente as portas a uma potencial fusão entre a Católica e o Politécnico, também sem querer conhecer os contornos do projecto (recordam-se com toda a certeza, foi protagonista público o então Presidente do Politécnico João Pedro Barros), que estava a ser construído por estas instituições.

Espero que, agora, mantenha a abertura que deu para a criação da Universidade Empresarial de Viseu, projecto anunciado esta semana pelo Presidente da AIRV.

É uma iniciativa louvável da sociedade de Viseu, neste caso da AIRV, Católica, Politécnico e das principais empresas de Viseu, uma ideia embrionária para atingirmos o almejado objectivo da criação da Universidade de Viseu, tendo como motor o tecido económico.

Como ideia, adiro a ela, não vou fazer qualquer tentativa de me “colar”, só direi que apoio o desenvolvimento dos conceitos já tornados públicos, dou o meu apoio politico ( pessoal, entenda-se!), apelando para que se possam recuperar algumas boas ideias do projecto Veiga Simão bem como do estudo que serviu de base à candidatura chumbada pelo Governo do PS de António Guterres para a Faculdade de Medicina.

Os méritos vão todos para a AIRV, na pessoa do seu Presidente João Cotta, só espero que outros, numa atitude de oportunismo politico, não se venham colar fazendo querer passar a ideia de que trabalharam alguma coisa para chegar a este ponto, é feio querer tirar louros do trabalho dos outros.

Deixemos o dossier na mão da sociedade, que a liderança continue na AIRV, pois já se provou no passado que se a “politica” se meter no assunto não iremos a lado nenhum.

Aceito o apelo e repto do Presidente da AIRV, que outros responsáveis políticos também o façam.

Acima de tudo, o que me move é o interesse de Viseu, a Universidade de Viseu é fundamental para o nosso desenvolvimento futuro.

In Diário de Viseu, 14 de Novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Pagar a tempo e horas, propaganda inconsequente?

Espero que o anúncio do pagamento das dívidas às empresas não seja mais propaganda inconsequente como o programa “pagar a tempo e horas”!


Recordo-me da primeira intervenção que efectuei na AR, no dia 16 de Maio de 2002, dizia na altura “ vejam como é que os socialistas puseram em causa o facto de o Estado ser uma pessoa de bem? Vejam a quantidade de dinheiro que o Estado deve às empresas, que muitas vezes esperam meses e meses para receber! O que é que o Partido Socialista fez para transformar o Estado numa pessoa de bem e para pôr em ordem o pagamento das dívidas do Estado às empresas?”

Ainda recentemente, aquando do debate da moção de censura ao governo apresentada pelo BE, dizia ao Sr. Primeiro Ministro “o que devia ter assumido — há três anos que andamos aqui a falar nisso — era que iria passar a pagar a tempo e horas às empresas para poder exigir, também, o cumprimento de que falava há pouco, o cumprimento fiscal”.

Há três semanas efectuava uma intervenção sobre o apoio às pequenas empresas, que resultou em quatro propostas em sede do OE 2009, logo criticadas pelo Governo.

Dum momento para o outro o PM muda de opinião, começa a considerar que é imoral e mau para a economia o facto de o Estado não pagar a tempo e horas e reconhece que o programa “ pagar a tempo e horas “ não correu bem.

Esqueceu-se de agradecer ao PSD as propostas que tem feito, quer em sede do recurso ao crédito por parte das empresas com base na garantia mútua quer quanto ao pagamento a tempo e horas às empresas.

Vale mais tarde do que nunca, esta é uma causa por que me bato há mais de dez anos, são inúmeras as intervenções e propostas sobre este assunto.

Só espero que a execução desta medida seja rápida e que, rapidamente, as empresas vejam o Governo a liquidar as suas dividas em atraso, que não seja mais um anuncio propagandístico como o programa “pagar a tempo e horas”.

E já que está numa onda de apoio às empresas que também assuma as propostas do PSD de o IVA das empresas ser pago só após boa cobrança das factura, extinguir o PEC (Pagamento Especial por Conta) e permitir as compensações de créditos fiscais quando a empresa deve ao Estado e é ao mesmo tempo credora com facturas vencidas.

Yes, We Can

Vivi o momento histórico que foi a vitória de Obama nas eleições presidenciais dos EUA, integrei uma delegação, chefiada por nós, portugueses, de 100 parlamentares de 29 países.

É difícil perceber um sistema eleitoral que, no fundo, são cinquenta lei eleitorais diferentes, em cada um dos Estados, bem como o facto de o Presidente ser eleito por um colégio de 538 pessoas que representam os Estados, na proporção do peso da sua população.

De facto, Obama ganhou com mais três milhões de votos mas, quem o vai eleger é um colégio de 538 pessoas que respeitarão o sentido de voto de cada Estado.

Todo o sistema politico é um equilíbrio entre a população e os Estados, o Senado tem cem Senadores, eleitos dois por Estado, a Casa dos Representantes tem 435 eleitos em círculos uninominais nos diferentes Estados.

O voto electrónico vigora num terço dos Estado, vi dois sistemas, o écran táctil, sem qualquer papel na Virginia e o boletim de votos preenchido e de imediato colocados numa máquina electrónica com scanner que conta logo o voto, até ao voto em papel.

Independentemente destas especificidades, a Democracia funciona, senti um entusiasmo enorme da população, dos analistas, dos jornalistas, uma grande mobilização da América para estar eleições.

Sobretudo senti uma grande proximidade entre os políticos e a população, é visível nos debates, nos contacto de rua, no comício de Obama em que estive em Manassas e no de McCain em Springfield.

O sistema eleitoral faz com que os eleitores se identifiquem com os seu Senadores e com os seus representantes, uma boa comunhão entre todos, senti inveja face ao que se passa em Portugal.

De facto, há muitos anos que se fala de uma reforma do sistema politico, mas a profundeza das máquinas dos partidos, tem sempre impedido que se leve a bom porto a iniciativa.

Pela minha parte, gostaria de ser eleito por um círculo uninominal, seria uma forma de maior proximidade com os cidadãos.

Quanto às eleições dos EUA, foi uma disputa entre dois grandes políticos, McCain tinha todo o peso da administração Bush, o que dificultava a sua vida, Obama personificou sempre a mudança, a capacidade de a América responder às dificuldades, de olhar para o futuro.

Todos acreditaram que é possível!

Obama é o primeiro Presidente Afro Americano dos EUA, foi uma experiência inesquecível participar neste processo como actor, como observador internacional convidado pelo Congresso.

In Diário de Viseu, 05 de Novembro de 2008