Almeida Henriques

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Desemprego e emigração, duas faces do País

Na interpelação que efectuámos ao Governo sobre competitividade da economia e desempenho do QREN, reafirmei no encerramento deste debate, que “os indicadores do País são deveras preocupantes, o desemprego já está nos 10,8%, com tendência para crescer, são já mais de 600.000 os portugueses afectados”.
E a economia, para além de não dar indicadores de que esta taxa se irá inverter, aponta num sentido preocupante de agravamento, senão vejamos.
Desde logo, a este número há que somar os mais de100.000 desempregados que já desistiram de procurar emprego e as dezenas de milhar que estão em acções de formação de curta e média duração.
Também os últimos indicadores quanto a insolvências de empresas dispararam para números deveras preocupantes, até inicio de Junho, 1836 empresas (11,2 por dia) tinham encerrado as portas, com maior incidência no Porto (419), Lisboa (315), Braga (257), Aveiro (152) e Leiria (72) sendo que Viseu aparece com 39.
Se em termos absolutos é preocupante, ainda mais o é quando comparado com o ano passado, um aumento de quase 10% em termos absolutos, um aumento de 50% face a Junho de 2009; no ano passado faliram 1671empresas e 1222 em 2008.
Os sectores mais penalizados são o comércio (448), construção (351) e confecção e vestuário (162).
As causas foram também por mim sintetizadas na interpelação, “A esmagadora maioria dos micro e pequenos empresários, os comerciantes, os industriais, os agricultores, vivem o dia-a-dia entre o Estado que não paga e lhes dificulta a vida, o fisco que exige e penhora, o banco que comunica a alteração das condições de crédito e o aumento do spread, muitas vezes acima dos 10%, quase não lhes resta tempo para gerirem as empresas”.
O estado das coisas obriga a que o Governo seja pró activo, não reaja como o fez na questão da Linha PME INVESTE, tem que focalizar a sua actividade a encontrar soluções que permitam o financiamento das empresas, para se inovarem e para promoverem as suas exportações ou internacionalização.
Se as exportações são o caminho, não tenho dúvidas, haja também um caminho de eficácia na aprovação dos seguros de crédito à exportação e na aprovação de linhas de financiamento para quem exporta.
Se os centros das cidades e vilas definham, há que aproveitar o que resta do QREN e dos fundos do comércio que resultaram dos novos licenciamentos, para fazer uma “task-force” em torno do repovoamento e requalificação urbanística bem como da criação de uma dinâmica de centros comerciais de ar livre.
Se actuasse bem nestas três áreas já era uma boa ajuda ao tecido económico.
Enquanto a economia definha os portugueses reagem emigrando, funcionando como um amortecedor ao aumento do desemprego.
Esta semana, em entrevista, o reputado economista Álvaro Santos Pereira refere um novo surto de emigração que ultrapassa já as 700.000 pessoas, distribuídas por um número de 30 a 35.000 por ano até 2000, essencialmente temporários, para 50 a 60.000 por ano a partir de 2001, chegando a ultrapassar 100.000 em 2007 e 2008.
Valores como estes só têm paralelo nas décadas de 60 e 70 onde se registou o maior surto emigratório do País, sem comentários.
É fácil fazer contas, com estes dados o desemprego já estaria em Portugal a níveis acima dos 15% pelo que esta capacidade de encontrar soluções por parte dos portugueses funciona como um amortecedor.
Aqui vemos como desemprego e emigração a aumentarem são duas faces de uma mesma moeda.
Fica para reflexão, estamos a efectuar uma viagem no tempo recuando cinquenta anos.
A responsabilidade não é só da crise internacional mas de quem nos governa que não soube acautelar o futuro e governar o País.

In Noticias de Viseu

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