Almeida Henriques

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma questão de Confiança

A sofisticação do mundo actual, os instrumentos ao dispor dos governos e organizações internacionais, a integração em blocos regionais, como a União Europeia, entre outros aspectos, gerou em muitos a convicção de que situações semelhantes à grande depressão vivida nos anos trinta do século passado constituiriam já tão só matéria para manuais de economia e doutrina.
Os factos recentes demonstraram que assim não é.
Nos anos 90 algumas das pujantes economias asiáticas, que passaram muito rapidamente de cenários de apogeu à recessão e estagnação, para surpresa dos que continuavam a prever elevadas taxas de crescimento para esses países, traduziram um indício que deixou alguma apreensão.
A recente crise mundial, com a rápida falência ou queda de algumas das economias que até então eram referências, transportou-nos da apreensão para a percepção das mudanças em curso.
Percebemos todos agora melhor as intrincadas teias e relações de dependência que o processo global em que vivemos criou, nos seus aspectos positivos, de forte incremento do comércio internacional, mas também das cautelas e necessidade de maior supervisão que devem incidir sobre relações económicas à distância de um rápido acesso à internet.
Percebemos também melhor que os conceitos da economia têm de ser adaptados aos novos paradigmas, aos novos mecanismos de mercado, aos novos actores e avanços tecnológicos que certamente não pararão de nos surpreender no futuro próximo.
É muito provável que no percorrer deste “admirável mundo novo” crises como a que actualmente atravessamos voltem a ter lugar.
Os temas da recessão, estagnação, inflação, deflação, retoma não se darão por findos dentro de algum tempo, quando as economias encontrarem os seus períodos de acalmia e crescimento, como estes ciclos normalmente ditam, sem prejuízo da incerteza que ainda paira, designadamente sobre uma pequena economia aberta como a nossa, onde os prognósticos variam entre o optimismo imposto e a incerteza de um eventual desfecho de tragédia grega.
A solidez das finanças do Estado e o nosso endividamento externo estão na ordem do dia e pelos números que conhecemos terão de continuar a estar, face à imperiosa necessidade de inverter o actual modelo em que vivemos, seja pelas regras da União Europeia, seja pela carga fiscal que daí advém, seja ainda por se não poder continuar a impor aos portugueses que tudo o que produzem se destine a equilibrar as contas públicas, quando muito pouco têm de retorno.
Essa alteração de modelo terá de passar por acreditar nas empresas, na sua iniciativa, na capacidade de criar emprego, de inovar, de criar riqueza, regiões coesas e competitivas.
A Região Centro, cuja estrutura associativa e empresarial o Conselho Empresarial do Centro/Câmara de Comércio e Indústria representa, não é imune, obviamente, aos cenários menos favoráveis que atravessamos.
Marcado pela diversidade, factor que constitui também a sua riqueza, o nosso território apresenta uma estrutura produtiva essencialmente composta por micro e pequenas empresas, onde convivem os sectores mais tradicionais, bastante responsáveis pelas nossas exportações e mais vulneráveis às oscilações da procura internacional, com novos e importantes “cachos de actividades” mais emergentes, de maior valor acrescentado, com destaque para as actividades ligadas à floresta, energia, saúde, tecnologias de informação e comunicação, biotecnologia, habitat, indústrias do mar, entre outros exemplos.
Em ambos os registos, o lema e as acções do CEC/CCIC têm sido ditados pela necessidade de pugnar em permanência pela existência de uma política séria de apoio às PME, por um estado facilitador, que não crie entraves à iniciativa privada, que cumpra os seus compromissos a tempo e horas, como exige aos contribuintes, que disponha de uma máquina fiscal, de incentivos e investimento ágil e amigável, capaz de criar um clima de confiança na nossa sociedade, organizações, empresas e cidadãos.
Esta é a reforma, também de mentalidades, que importa promover.
António Almeida Henriques
Presidente do CEC/CCIC
In Correio da Manhã, 14 de Janeiro de 2010

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