Almeida Henriques

quinta-feira, 19 de março de 2009

Quatro anos depois, a mesma coerência do PS

Há uma semana atrás, pela segunda vez na actual legislatura da Assembleia da República, se discutiram diplomas que visavam consagrar direitos de acesso à reforma de ex trabalhadores da ENU; em resumo, no ano de 2005, os trabalhadores de superfície foram equiparados a trabalhadores de fundo de mina para efeitos de reforma, por terem estado exposto ao mesmo tipo de poeiras radioactivas.

Estes trabalhadores que agora também se querem equiparar, não se pronunciaram durante o período em decorreu esta alteração legislativa, só o fizeram mais tarde; no entanto, parece-nos de elementar justiça que não se discriminem pessoas que, só porque rescindiram ou negociaram a saída antes do encerramento, não estariam abrangidos

Entendemos que as razões eram justas e empenhámo-nos ao longo de quatro anos para que fossem efectuados os exames médicos, situação que esbarrou mais de dois anos na teimosia de Correia de Campos, Ministro da Saúde na altura, bem como na apresentação de um projecto lei, que consagrou o principio de que para estarem abrangidos deveriam ter trabalhado cinco anos na empresa.

Assumimos e cumprimos, viabilizámos os projectos dos outros Partidos nos dois debates, há um ano e agora.

O PS também foi coerente, votou sempre contra os vários projectos e, nas duas discussões, nenhum dos Deputados eleitos por Viseu se envolveu na discussão.

Esqueceram-se foi que, no calor da campanha, pela voz do Dep. Miguel Ginestal, este considerou que o Estado tinha uma dívida de gratidão para com estas pessoas, ex trabalhadores da ENU.

De facto, quatro anos depois, esqueceram-se de saldar a dívida, abstiveram-se mesmo de participar no debate apresentando as suas razões.

Estes conterrâneos têm todos os motivos para estarem “aborrecidos” com este comportamento do Partido Socialista.

Mas, a verdade é que não é muito diferente daquilo a que nos habituaram, senão vejamos, à laia de balanço de quatro anos de Governo socialista no Distrito de Viseu.

Universidade Pública, tinha sido criada, numa parceria e modelo inovadores, com um investimento de 25 milhões de euros; logo no debate do Programa de Governo, a uma questão por mim colocada, o Primeiro Ministro José Sócrates, enterrou este velho anseio, quatro anos volvidos, nenhuma alternativa foi criada.

Grande Área Metropolitana de Viseu, um esforço de envolvimento de 21 municípios, o PS manteve em “banho maria” este projecto e três anos depois matou-o definitivamente frustrando expectativas e serviço efectuado.

Fixação de Novos Serviços Públicos em Viseu, quatro anos depois salda-se pela reivindicação de um serviço que já existia, a Direcção Regional Florestais e uma minúscula Direcção Regional da Inspecção das Condições de Trabalho, não se aproveitando, como fez Aveiro, para acolher novas estruturas no âmbito da reestruturação do PRACE.

Ligação em auto estrada Viseu- Coimbra, em 2004 já o projecto estava em execução, quatro anos depois ainda se aguarda a avaliação das propostas e a adjudicação.

Ligação em auto estrada Mangualde- Canas de Senhorim, em 2004 já o corredor se encontrava definido e o troço desanexado, quatro anos depois, está como a ligação Viseu Coimbra.

A24 (Viseu-Lamego-Vila Real) e A25 (Aveiro-Viseu-Vilar Formoso), estavam em curso e foram finalizadas e inauguradas.

IC26 (ligação A23 à A25, Lamego, Tarouca, Moimenta da Beira, Sernancelhe, Trancoso), fundamental para “desencravar” o Norte do Distrito, estava em fase de conclusão o estudo, quatro anos depois está na mesma situação.

EN 229 (requalificação Viseu Sátão), adiamentos consecutivos, manobra dilatória de promessa de uma nova estrada para reduzir o investimento em 3 milhões de euros, há três anos à espera do início dos trabalhos, com todos os danos que daí advêm, designadamente as muitas vidas perdidas. Finalmente, esta semana foi adjudicada a obra, embora num formato mitigado bem como a contratação do estudo prévio da nova variante, já não era sem tempo.

EN 230 (Tondela/ Carregal do Sal), com concurso aberto há quatro anos, só agora iniciada.

Ligação Ferroviária de Viseu, há quatro anos discutia-se a ligação de Viseu à linha da Beira Alta ou uma ligação, que poderia ser em Alta Velocidade, entre Aveiro, Viseu e Vilar Formoso, decorrido um mandato socialista, continuamos a ver passar os comboios.

Arquivo Distrital de Viseu, aberto concurso público para elaboração do projecto há quatro anos, continua na mesma o processo, uma legislatura perdida para este importante projecto na área da cultura.

Hospital de Lamego, processo iniciado há quatro anos, está na fase de avaliação de propostas.

Centro de Saúde de Viseu II, há quatro anos tinha já o projecto elaborado e o concurso pronto para lançar, com o Ministro Correia de Campos, acena-se com a construção de três Unidades de Saúde Familiar, que continuam a ser uma miragem.

Escola de Ranhados, há quatro anos era publicado um acordo entre a Câmara de Viseu e o Governo, no final da legislatura não se cumpre o acordo e volta-se à estaca zero.

Matadouro de Viseu, processo iniciado há mais de quatro anos, com perspectivas de apoio governamental, faltando reunir os parceiros privados, depois de todo este período o projecto é reprovado, um investimento abandonado pelos socialistas.

Palavras para quê, cada um dos leitores que faça a sua avaliação face aos dados objectivos apresentados.

Para Viseu, quatro anos a empurrar com a barriga todos os projectos estruturais ou o enterrar em definitivo de outros.

De facto, quatro anos depois, a mesma coerência do PS, face aos trabalhadores da ENU e nas questões estruturais para o nosso desenvolvimento.

In Diário de Viseu, 19 de Março de 2009

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