Almeida Henriques

sexta-feira, 6 de março de 2009

Comércio de proximidade, ainda é possível!

Estive na comemoração dos 108 anos da nossa Associação Comercial, sala cheia, uma boa mobilização de empresários que se vêm ameaçados no seu sustento do dia a dia e se mobilizam em torno da sua associação.
Assisti ao reconhecimento da persistência, mais de cinquenta comerciantes, uns com 25, outros com 50 anos de inscrição, foram homenageados com emblemas de ouro e prata, uma lembrança que apraz registar, não é muito comum homenagear-se o esforço.

Neste caso é mesmo um tributo ao código genético da nossa cidade e do nosso distrito, com uma matriz marcada pelo exercício da actividade comercial, marca que temos que manter.

Como referi na intervenção que efectuei, não é pelo facto de Viseu ter vários “brinquedos novos”, obviamente que me refiro aos dois grandes centros comerciais e aos mais pequenos que pulularam, que devemos colocar o “brinquedo velho” de lado, antes pelo contrário, temos que o acarinhar, pintar, dar uns retoques para que continue a funcionar bem.

Não podemos deixar morrer o comércio de proximidade, temos que lhe proporcionar as condições para se modernizar e corresponder aos anseios do consumidor, temos que devolver às ruas da cidade o movimento que já conheceram, para que todos vivamos mais alegres e identificados com o nosso centro histórico.

Nunca como hoje vi tantas vontades convergentes, a Associação Comercial com o seu projecto de um Centro Comercial a céu aberto, várias iniciativas da autarquia em curso para dar vida a alguns edifícios deste centro, trazendo novas actividades, mas também mais pessoas para morarem e os prórpios comerciantes e a população em geral.

Faltam âncoras, a loja do cidadão é seguramente uma delas, todos estão de acordo, a mobilização dos comerciantes realizada na segunda feira foi uma resposta, até os Deputados socialistas já se renderam, há que dar o impulso final.

Como dizia o Presidente da Associação Comercial, com todas estas vontades e com o local encontrado, não venham agora com argumentos de dinheiro, todos os dias se anunciam milhões e mais milhões, parece haver dinheiro para tudo, esperemos que não falte para comprar as instalações aos Bombeiros Voluntários ou para as remodelar e arrendar.

Ninguém tem dúvidas que compete ao Governo esta tarefa, concordar com a escolha do local, elaborar o projecto e iniciar as obras para que esta instalação da loja do cidadão no centro histórico se verifique.

Não há desculpa e estou certo que esta âncora puxará outras.

Outro aspecto que se prende com o comércio tem a ver com a excessiva concentração em Portugal, sobretudo na área alimentar, onde dois grupos têm 55% de quota de mercado e se juntarmos um terceiro ultrapassa os 80%.

Já por si é perigoso, mas ainda o é mais quando estes grupos querem criar redes de lojas de todos os ramos, tirando mesmo o espaço que hoje é ocupado pelos pequenos comerciantes.

Ainda há dias o verifiquei no Continente. Ao ver a tabacaria fechada questionei o proprietário e ele respondeu-me que o contrato não tinha sido renovado e que o grupo proprietário queria chamar a si o negócio dos jornais e revistas.

O Governo e a Autoridade da concorrência deviam olhar para este problema, é preciso deixar espaço às pequenas iniciativas, se os grandes grupos se “metem” em todos os negócios, não deixam espaço para nada.

Depois fica a faltar a rede de empresas, os novos empreendedores, deixem ficar para as pequenos as frutarias, as tabacarias, as sapatarias, as lojas de roupa, os cafés, as creches, os gabinetes de contabilidade, etc., etc.,etc. não matem a “galinha dos ovos de ouro”, pois depois faltarão os consumidores dos próprios espaços.

Até em nome da responsabilidade social é desejável que os grandes grupos tenham um outro olhar sobre a sociedade, que sejam promotores de redes e não destruidores.

Esta péssima atitude é também visível no espaço que as marcas brancas têm vindo a conquistar nos hipermercados, estão-se a matar as marcas, nacionais e estrangeiras, a maior parte dos produtos brancos são importados, prejudica-se assim também a indústria nacional.

Onde está o Governo a actuar, tem meios para fazer este trabalho de concertação entre as diferentes formas de exercício da actividade comercial, basta criatividade, trabalho de formiga e menos show off inconsequente.

A bem da economia e da manutenção das micro e pequenas e médias empresas.

In Diário de Viseu, 06 de Março de 2009

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