Almeida Henriques

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

As empresas é que criam ou mantêm o emprego

Semana após semana procuro fugir ao tema da grave crise que vivemos, mas tenho sempre uma enorme dificuldade pelos dados novos que todos os dias nos atormentam.
No debate quinzenal com o Sr. Primeiro Ministro e no Programa Prós e Contras em que participei, procura o Governo fazer crer que a crise é recente e que há seis meses o País navegava em águas tranquilas, que estava a crescer.

Nada de mais falso, há mais de seis anos que divergimos da média da União Europeia e que temos acentuado um caminho de afastamento dos nossos parceiro, desde o inicio de funções deste governo que assistimos a um deslumbramento pelos grandes projectos, pelos grandes grupos, com uma grande desatenção às micro e PME.

O sector da construção civil há muito vinha a dar sinais de desaceleração, com impacto directo naquele que é o sector âncora que afecta, não só o mercado da habitação, mas tudo o que se relaciona com materiais de construção e serviços com ele conexos.

No nosso distrito, como no País, milhares de casas por vender e projectos que não passaram da fase do “tosco” por falta de compradores, com impacto na economia e no emprego.

No pequeno comércio, uma total desatenção que tem atirado para o encerramento centenas de comerciantes, contribuindo para a imagem triste dos centros das cidades e vilas cada vez mais desertificadas; o Governo sempre a responder com as politicas erradas, avançando com sistemas de incentivos, esquecendo-se de ir ao cerne da questão, a necessidade de ter uma “task force” entre autarquias, associações empresariais e comerciantes e o enfoque na dinamização dos pólos urbanos.

O segmento das micro e das pequenas empresas, sobretudo as que vivem do mercado interno, há muito que sobrevivem com dificuldades, com a insensibilidade do Governo para as mesmas.

A liquidez das empresas há muito que se agrava, por razões do mercado, por razões estruturais, como a insuficiência de capitais próprios e o excessivo endividamento e pelo facto de Estado as sufocar, porque não paga o que deve e porque a máquina fiscal pressiona indiferente aos motivos e sem qualquer sentido pedagógico.

E agora, mesmo as nossas empresas emblemáticas, as da tal primeira divisão, começam a dar sinais de fraqueza, fruto, estas sim, da conjuntura internacional.

Empresas bem estruturadas, com uma boa estratégia, com presença em vários mercados, que apostaram na qualidade, apontadas como caso de sucesso esbarram na falta da procura do mercado.

O maior exemplo vem da indústria automóvel, a Citroen em Mangualde despede 450 pessoas, a Borgstena em Nelas cerca de 100.

A razão é sempre o mercado, a falta de procura que obriga a estas medidas drásticas, de empresas que deram provas de preocupações sociais e de entrosamento com a comunidade.

É algo de novo, desde o encerramento da Johnson’s em Nelas e dos casos das confecções na região de Lafões e Mangualde que não tínhamos noticias tão preocupantes.

Culpa do Governo ? Claro que não, este afirma mesmo que quer salvar todas as empresas economicamente sólidas e viáveis.

Então que aja com rapidez na resolução das questões sociais que o desemprego traz, que responda com celeridade aos pedidos das empresas.

Mas, sobretudo, que não tenha dois pesos e duas medidas, se são todas as empresas, têm que ser mesmo todas, independentemente da dimensão.

Os nossos empresários que estão a passar dificuldades, dirijam-se ao IAPMEI e “cobrem” a “promessa” do senhor Primeiro Ministro, a ajuda directa não pode ser só para os grandes.

No início, deslumbramento com os grandes projectos, agora atenção redobrada às maiores empresas com dificuldades, esquecendo-se de medidas que a todos ajudem, como as que tenho defendido de pagamentos a tempo e horas por parte do Estado, extinção do Pagamento Especial por Conta, pagamento do IVA com o recibo, possibilidade de compensação de créditos com o Estado e linhas de crédito com recursos à garantia mútua que tragam dinheiro fresco às empresas, uma orientação das compras do Estado para as micro e pme, em vez de grandes obras, a disseminação de obras mais pequenas com impacto nas economias de proximidade.

Medidas práticas, que a todos contemplem, que introduzem liquidez no sistema e animem as economias locais.

Não é tempo de baixar os braços, mas o Governo tem que ajudar.
In Diário de Viseu, 30 de Janeiro de 2009

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