Almeida Henriques

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Truques, mentiras e…mate-se o mensageiro

Começa a ser doentia a forma como o Primeiro-ministro aborda a actual situação do País, desdobra-se em acções de campanha por todo o lado, utiliza um discurso de exaltação de feitos do Governo que ninguém vê, insulta os que procuram repor a verdade.
O País precisa de pensamento positivo mas não que se iluda a verdade, pois esta vem sempre ao de cima; se nos recordarmos, no mês passado o Secretário de Estado do Emprego Valter Lemos, vinha dizer que, em matéria de desemprego o pior já tinha passado; não foram precisos 30 dias para ser desmentido pela realidade.
Estes resultados do desemprego, 619.000 cidadãos (mais de 1 em cada 20 portugueses procuram emprego, sobretudo jovens com menos de 35 anos que são quase metade, mulheres e licenciados), só surpreendem quem quer iludir a realidade, só no ano passado verificaram-se 4.091 insolvências, com incidência em sectores fortemente empregadores como construção (+ 13%), vestuário (+7%), actividades ligadas à construção civil (+6%) e com uma maior concentração entre Agosto em Dezembro (46%), não são dados que fizessem prever um aumento do desemprego?
Por outro lado, atente-se às previsões do Banco de Portugal que apontam para uma recessão em 2011, um crescimento negativo de 1,3%, tendência que também já se vem sentindo, designadamente no último trimestre e 2010, uma contracção de 0,3%.
Também nas declarações do Presidente do Banco de Portugal, que tem demonstrado uma grande independência face ao Governo, em contraste com o seu antecessor, se escutam avisadas chamadas de atenção que deveriam ser entendidas como contributos positivos, o Governo não entende assim e opta por tentar matar o mensageiro, só porque trás más- notícias.
Também o Presidente do Tribunal de Contas, cuja origem partidária ninguém desconhece, vem chamando à atenção para inúmeras realidades, ainda a propósito da conta geral do Estado de 2009, vem colocar o dedo na ferida.
Há medidas que são implantadas, ano após ano e não se cuida da sua avaliação, dou três exemplos:
- nos incentivos à fixação de investimento no interior do País, verifica-se que dos 21,1 milhões de euros, 11,2 milhões de euros beneficiaram só um contribuinte, mais de 53%;
- nos incentivos às zonas francas, dos 15,8 milhões, 8,3 milhões beneficiaram só um contribuinte, cerca de 52%;
- nos incentivos para Investigação & desenvolvimento (I&D), dos 19,2 milhões, uma só empresa beneficiou de 6,7 milhões, cerca de 35%.
Na diminuição de funcionários em 2009, pressupostamente menos 2.400, afinal ficamos a saber que tal se deve à criação dos hospitais empresa, com acordos que concretizam transferências, Pessoas que deixam de ser contabilizadas como funcionárias públicas, mais um truque.
Também na semana passada, o Governo anunciou uma nova linha de 467,9 milhões de euros para criação do próprio emprego, sem cuidar de avaliar o que correu mal em linha idêntica criada em 2009, cujos dados de execução são decepcionantes; ao que parece, dos 100 milhões de euros alocados para criação do próprio emprego (o objectivo era apoiar 3.000 empregos e 1.500 empresas), só 15 pessoas tinham assinado contrato, num total de apoio de 8 milhões de euros, provavelmente uma boa parte gasta em propaganda e acções de promoção.
Talvez fosse mais avisado efectuar um balanço da medida, efectuar as correcções e só depois lançar nova.
Mais recentemente, mais concretamente na sexta-feira, foi noticia a declaração do empresário Alexandre Soares dos Santos denunciando os truques do Primeiro-ministro e o facto de não falar verdade nem concretizar o que promete, logo o Engº. Sócrates veio dizer que riqueza não é sinónimo de educação, sempre o insulto e a reprimenda para quem dele discorda, tiques permanentes de autoritarismo? Ou mesmo de desiquilibrio?
Por último, para não ser maçador, atente-se à nova forma de divulgação dos dados da execução orçamental, uma fuga de informação para um Jornal Semanário, seguida de confirmação por parte do Primeiro-ministro, afirmando que a queda do défice foi de 58,6%, para 281,8 milhões de euros.
Antes de mais, comentar o que não é oficial é sempre um risco mas, não será normal com a cobrança adicional de impostos que o défice seja reduzido? E a despesa, como se comportou ou se vai comportar durante o ano de 2011, um mês será pouco, sobretudo num governo que recorre a todos os truques para iludir a realidade.
Estamos fartos de truques e propaganda, de facto o governo devia concentrar-se mais em governa e não procurar tapar o sol com a peneira, quando se acorda da fantasia, a realidade é sempre mais dura.

1 comentário:

  1. Acordar da fantasia?
    A real dimensão do descalabro do Sr. José Pinto de Sousa só será conhecida uma vez este apeado do Governo. E nomeada uma Comissão de Avaliação para determinação dos danos que praticou por acção e por omissão.
    O que o Sr. Dr. refere no seu texto são meros afloramentos daquilo que conhecemos. Não deixará de notar que a principal fonte de conhecimento que cita é a comunicação social...
    E esta está, ainda que menos do que já esteve, no bolso do Sr. José Pinto de Sousa.
    Esse é um dos motivos pelos quais o PSD não consegue descolar nas sondagens eleitorais.
    O outro motivo é a prematuridade.
    Ainda não estamos preparados para avançar para um confronto eleitoral com o Sr. José Pinto de Sousa. Indivíduo que é Doutorado na arte da mentira, da insinuação maldosa e na calúnia. Refere o modo como insultou o Empresário Alexandre Soares dos Santos. Qual o pecado cometido por este? Nenhum. Limitou-se a dizer a verdade.
    Isto para não falar dos correligionários do Sr. José Pinto de Sousa. Pense-se, a título de exemplo, na capacidade "ofensiva" do actual Ministro da Defesa.
    Há que arranjar uma estratégia clara e firme: por um lado arranjar alguns pesos pesados que consigam lidar bem com a ofensa e com o discurso de baixa condição que rodeia (e é capitaneado pel)o actual PM e, por outro, conseguir blindar a nossa liderança com uma carapaça à prova de insulto.
    Ao insulto Pedro Passos Coelho deve saber responder com o discurso positivo da realidade. O discurso da dificuldade presente mostrando o objectivo que se pretende atingir.
    Uma vez alcançado isso, tudo será possível.
    E a realidade começará a ser menos dura que a actual.

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