Almeida Henriques

domingo, 5 de outubro de 2008

Qualificar Portugal

Portugal evidencia ainda graves deficits de qualificação em relação aos países mais desenvolvidos da União Europeia.
Segundo os dados oficiais disponíveis, cerca de dois terços da população apresenta apenas o ensino básico. A percentagem dos portugueses que completa, pelo menos, o ensino secundário fica muito aquém da média comunitária e a taxa de frequência de acções de formação profissional é igualmente das mais baixas.
Os últimos indicadores publicados quer pelo Instituto Nacional de Estatística, quer pelo Eurostat, revelam que a situação da escolaridade e da qualificação constitui um dos principais obstáculos estruturais que impedem o desenvolvimento do nosso País.
Urge, por isso, não só inverter esta tendência, recuperando esse atraso estrutural, como implementar medidas que viabilizem que nesta matéria, como, aliás, em tantas outras, tenhamos de crescer com mais celeridade que os nosso parceiros comunitários, se quisermos garantir uma rota de convergência com as economias mais competitivas.
Os factores de competitividade alteraram-se significativamente nas últimas décadas, passando a realidade social e económica portuguesa de um modelo relativamente fechado para um contexto de integração europeia e de concorrência à escala mundial.
A aposta no capital humano torna-se, desta forma, numa das principais opções para superar as dificuldades e desafios que se nos apresentam, tendo em vista a promoção do crescimento económico, a coesão social e territorial.
Numa economia moderna não se compete apenas na produção de bens e serviços, mas sobretudo através do conhecimento, um dos principais factores de produção dos nossos dias.
Um sistema de educação de excelência e a melhoria das competências da força de trabalho, através da formação, assumem-se enquanto aspectos vitais de competitividade.
Qualificar Portugal é o lema assumido pelo Programa Operacional Potencial Humano (POPH), espelho de um objectivo primaz a que se propõe o actual Quadro Comunitário de Apoio (QREN).
Com uma dotação de cerca de seis milhões de euros de Fundo Social Europeu, o POPH representa 37% dos apoios estruturais do Quadro de Referência Estratégico Nacional, que vigorará até 2013, repartindo-se por linhas de acção como a qualificação inicial, a aprendizagem ao longo da vida, a formação avançada ou a transição para a vida activa, de entre outras medidas.
Diz-nos a experiência que não devemos encarar os Quadros Comunitários enquanto uma panaceia para todos os males nacionais, embora reconheçamos o que têm contribuído para a profunda mudança que o país sofreu nas últimas décadas.
Dizia Antero que da educação que nos demos durante séculos provinham todos os nossos males. Não devemos cair em pessimismos, inimigos da acção e da motivação necessárias a este desafio, mas devemos garantir que os fundos estruturais respondem a um novo paradigma, que impõe novas competências e atitudes às organizações e seus recursos humanos. O risco de procurarmos responder às estatísticas é sempre elevado, importando que todos os responsáveis, dos governantes, aos gestores e beneficiários, atentem mais no impacto do que no resultado imediato.
A Câmara de Comércio e Indústria do Centro viu recentemente delegada pelo POPH parte da componente do eixo que visa a promoção de formação-acção em PME. Através desta iniciativa serão acompanhadas algumas centenas de empresas da Região Centro, procurando responder, através de momentos de consultoria altamente especializada, às suas necessidades estratégicas e à correcta articulação das mesmas com as valências dos seus colaboradores, também eles beneficiários da formação.
Paixão e razão devem guiar-nos neste propósito. Diz-nos também a experiência que apenas uma delas não basta.
In Vida Económica, 5 de Novembro de 2008

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