Almeida Henriques

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Vivemos tempos difíceis, a atitude do Governo não ajuda!

Vivemos uma semana de grande complexidade, em que os indicadores económicos do País e do Mundo se agravam, apesar dos esforços dos diferentes governos, com destaque para os da União Europeia e dos EUA.
As bolsas e os investidores estão instáveis, todos os dias se verificam novas quedas, as noticias que nos chegam da economia real é de empresas que fecham e outras que se reestruturam e despedem pessoas e cancelam investimentos, de sectores âncora como por exemplo o automóvel, que sentem como nenhum outro a crise instalada; é difícil divisar um momento em que verifique a viragem e a melhoria da conjuntura.

Por mais que o Governo pretenda escamotear o problema, o nosso País, mais uma vez, não estava preparado para uma crise com esta intensidade, as reformas anunciadas e tão propagandeadas afinal não foram feitas, veja-se o estado da educação, da justiça, da administração pública, da economia!

É certo que esta é uma crise sem precedentes, reconhece-se, mas o governo passou quatro anos a prometer reformas e estas não se fizeram.

Um dos aspectos mais visíveis é a educação.

O clima de confronto permanente levou a uma desmotivação sem precedentes, o Governo desvalorizou o descontentamento e teve mais uma vez os professores na rua, numa manifestação de grande força, preparada de uma forma serena, o traço relevante foi e é o autismo do Primeiro Ministro e da Ministra da Educação.

Avaliação tem que ser feita, nos dias que correm, numa administração pública moderna, os professores têm que ser avaliados, não tenho ouvido nenhum a dizer o contrário; a verdade é que o modelo actual não funciona e foi imposto contra a vontade de todos.

O Governo mostra agora sinais de querer recuar e convocou um Conselho de Ministros extraordinário, simplificando o modelo, tentando remendar o que já não tem conserto.

Adequado era que se suspendesse o modelo e, duma forma séria e sem pressões, preparasse um novo processo, em nome da estabilidade nas escolas, em nome dos alunos que serão sempre os mais prejudicados!

Na economia as coisas não estão melhores, o discurso do Governo e o sentimento reinante estão nos antípodas.

O Secretário de Estado do Comércio vem a Viseu despejar um conjunto de estatísticas e de pretensos apoios que o Governo colocou à disposição, num discurso totalmente desgarrado da realidade, todos os empresários escutavam atónitos !

O Ministro da Economia, na audição do Orçamento de Estado 2009, quando questionado por mim quanto aos reais apoios às empresas e falta de uma politica adequada para as empresas, sobretudo as de menor dimensão, exibe um gráfico em que mostrava que em 2004 os incentivos às empresas foram de 400 milhões de euros e que em 2008 seria de quase 4.000 milhões.

Pedi para decompor o valor absoluto e esclarecer que eram verbas do Quadro Comunitário em encerramento, o que eram verbas do novo Quadro Comunitário de apoio e linhas de crédito.

Esteve quatro horas com o quadro em exibição, nunca respondeu à minha pergunta, ficou bem claro o embaraço, sobretudo no final da sessão, pois estava a misturar alhos com bugalhos, chegou mesmo a reconhecer, embora informalmente, que, de facto não deveria ter colocado no gráfico o termo incentivos, pois não era disso que se tratava.

Obviamente que o grosso dos apoios são do encerramento do QCA III, pois do novo QREN quase não houve ainda pagamentos às empresas.

Mas o mais grave é que estava a contabilizar como incentivo as linhas de crédito com recurso à garantia mútua aprovadas recentemente, aliás uma medida que eu elogiei.

Nestas linhas de crédito de cerca de 2.500 milhões de euros, o incentivo do Governo é a bonificação das taxas de juro e o reforço do fundo de garantia mútua, não se podem considerar estes valores incentivos, o dinheiro emprestado é da Banca.

Vale tudo para passar uma mensagem do que não se faz, o Governo é hoje uma agência de promoção de eventos, esquece-se que, muitas vezes, o efeito é exactamente o contrário, as pessoas sentem-se enganadas e jamais acreditam!

Os tempos difíceis que atravessamos exigiam uma postura mais de consonância com a realidade, sem mentiras ou truques, mobilizando as pessoas para as dificuldades, ouvindo as várias sugestões que surgem dos diferentes quadrantes da sociedade.

O Governo, a maior parte das vezes não ouve, procura iludir a realidade e, quando ouve é com três anos de atraso.

Dois exemplos, há mais de três anos que venho a defender a criação de linhas de crédito com recurso à garantia mútua e os pagamentos às empresas, o Ministro da Economia chegou a ironizar com estas propostas; agora acolhe-as, faltando saber como vai concretizar os pagamentos de mais de 2,5 mil milhões de euros atrasados às empresas!

Vale mais tarde do que nunca !

In Diário de Viseu, 21 de Novembro de 2008

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