Almeida Henriques

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mentira e desmoronamento

 De negação em negação, como aconteceu ao longo dos últimos dois anos, o Primeiro-ministro assumiu que tinha solicitado a ajuda externa ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira.
Três dias antes, na entrevista que deu na terça-feira, assistiu-se ao expoente máximo da irresponsabilidade, uma cena idêntica à que temos presenciado nos últimos seis anos, sempre um Estado de negação sobre a realidade do País para mais tarde vir assumir “a real”, com custos acrescidos.
Sempre assumiu uma estratégia de confronto, mesmo que isso possa custar a bancarrota ao País, montou toda esta estratégia para se vitimizar e responsabilizar os outros, indiferente à degradação progressiva do País.
José Sócrates continua a falar do País que não existe, governando com “estados de alma” ao invés de tomar as medidas que se impõem, mesmo num governo em gestão; todos os dias as notícias desmentem as suas afirmações.
O rating da República foi-se degradando estando a um passo de ser rejeitada pelo BCE e o da Banca vai a reboque, com consequências nos diferentes níveis de crédito.
Autarquias em risco de fechar serviços por não terem acesso ao crédito, a situação do poder local tem vindo a degradar-se e não se adivinha forma de saírem, agora agravado pelo rating da República e ausência de disponibilidades financeiras da banca.
Portugal financia-se a taxas insustentáveis, mesmo a 12 meses Espanha já se consegue financiar mais de 3% abaixo de Portugal, nós pagamos o mesmo por dívida a um ano que os nossos vizinhos a 30 anos; a divida a cinco anos próxima dos 10% e a dez anos a roçar os 9%; é fácil fazer as contas, por cada 1.000 milhões de euros de empréstimo a dez anos que Portugal contrai assume que só em juros vai pagar 900 milhões.
A Transtejo só tem dinheiro para pagar salários até Junho, outras empresas públicas do sector dos transportes, bem como noutros sectores, entram em ruptura.
Até os banqueiros, designadamente Ricardo Salgado, Santos Ferreira e Fernando Ulrich que alinhavam numa lógica de que devíamos resistir, vieram agora dizer que só há um caminho, pedir ajuda externa e rápido.
A Banca anunciou que não compra mais dívida portuguesa, até aqui financiavam-se junto do BCE e asseguravam a colocação de dívida do Estado, nesta quarta feira foi a última vez que foram a um leilão.
Face à situação da Banca e aos testes de stress em curso, o Banco de Portugal vem exigir reforço de capitais na nossa banca
O Governo anuncia um valor do défice para depois o vir corrigir com base em critérios que conhecia, mais de 3.000 milhões de diferença face ao anunciado, verifica-se agora que nunca tivemos nenhum ano abaixo dos 3% e que a previsão de 7,3% para 2010, afinal vai ficar nos 8,6%.
Aquilo a que se assiste é a um desmoronar do País.
Numa lógica de sobrevivência o Engº. José Sócrates dizia que tudo faria para evitar a ajuda externa, mesmo que isso signifique pagar empréstimos com juros que o País não pode suportar, vem agora dar o dito por não dito, tentando responsabilizar tudo e todos, dizendo que a culpa não é sua.
O pedido de ajuda aí está, como dizia ontem João Salgueiro, Presidente da Associação Portuguesa de Bancos, há três/ quatro meses atrás seria uma negociação, agora é um pedir de ajuda com o chapéu na mão.
Qual o prejuízo que o País teve com esta teimosia final? Estamos a falar de centenas de milhões de euros, há que lembrar que há muito pouco tempo, o Ministro das Finanças reconhecia a necessidade de ajuda externa se os juros da dívida soberana ultrapassassem os 7%, recorde-se que estão nos 10%.
Em suma, o PM pede a ajuda que sempre negou que iria pedir, perde o argumento eleitoral que tinha de evitar a entrada do PMI, governando com “Estados de Alma” conduziu o País para o abismo, é notório o desmoronamento de todo o sistema.
Resta agora negociar o melhor possível, restabelecer a depauperada imagem de Portugal nos mercados e no mundo, canalizar todos os recursos existentes para a recuperação da economia, é preciso que ela cresça, que se exporte mais, precisamos de atingir rapidamente a meta de 40% do PIB, substituir importações por produção nacional, apostar nos bens e serviços transaccionáveis, mobilizar a nossa indústria e olhar para o sector primário com atenção; ao mesmo tempo, reestruturar e introduzir rigor no Estado, não esquecendo os que mais precisam.
Este é um caminho muito difícil, não precisávamos de bater tão no fundo, o País precisa de mudar de vida e de acordos alargados que resolvam os nossos graves problemas.
É preciso erradicar a mentira da política e travar o desmoronamento a que estamos a assistir.

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